domingo, 31 de março de 2024

Fardo

 

Envelheci.

O que me foi dado a viver, vivi. 

Os meus olhos, agora cansados, vêm,

ainda que sem muita nitidez, a hora

da minha despedida.

Vou partir.


Quero  partir desta vida sem fardo algum.

Tudo que fiz, tudo que ganhei e tudo

que vivi deixo aqui.

A única coisa que pretendo levar comigo

quando da minha despedida é o teu 

perdão.


O teu perdão. 

O perdão que te peço aqui, agora.

Perdão! 

Permita-me colocar o meu fardo no chão

e ali o deixar, pois este fardo não é meu,

eu não trouxe comigo quando nasci.


Envelheci! 

Envelheci e, não tarda, terá chegado a 

hora da minha despedida.

Parto e não levo, senão a saudade 

dos que deixo aqui.

Envelheci.


              Habacuc - Chuy, março de 2024



                        #


sábado, 2 de março de 2024

O “daqui a pouco”.


Não sou tolo para
acreditar no que o
“daqui um pouco” está a
me contar.

A farsa disfarça e 
esconde a verdade sobre
a qual ela não quer falar.
Uma situação a pensar.

Oremos! 
Oremos pelos que não 
sabem orar.
Olhemos!
Olhemos pelos que não
conseguem enxergar.

Não chorem!
Não cabe, nestes casos,
chorar.
Vai passar! 
Vai passar!

O “daqui a pouco” esta
dançando e, tem gente
batendo palmas, louca 
para vê-lo dançar.

Habacuc - Chuy, março de 2024

            @ 


terça-feira, 30 de janeiro de 2024

Me dê este alento


Necessito desesperadamente de
um trago.
A minha boca, seca, amarga e o
meu coração dói.
Necessito desesperadamente de
um trago.

Só um trago do teu amor é capaz
de saciar a minha dor e de calar
a minha dor.
Então me dê um trago, um trago,
um trago do teu amor.
Necessito de um trago.

Necessito desesperadamente de
estar contigo.
Necessito de um sentimento que
abrande o meu sofrimento.
Necessito de tu sendo a minha
mulher.

Necessito dos teus abraços em
meus braços.
Necessito dos teus beijos e do
teu cheiro.
Necessito desesperadamente
de um trago, um trago dos teus
beijos

Por onde andas agora não sei,
mas sei que te encontro sempre
em meus pensamentos.
Apareça de vez em quando, me
dê este alento e amenize o meu
sofrimentos.

      Mauro Lucio - Chuy, janeiro de 2024

                  @ 


domingo, 28 de janeiro de 2024

Vou voltar para o Gama

 


Vou voltar ao Gaminha para me reencontrar

vivendo a minha infância, onde eu corria

descalço sobre os cascalhos, os 

pedregulhos e a terra vermelha que 

dominava o cenário daquela época. 

Quero voltar à cidade do Gama!

 

Quero voltar ao Gaminha e lá reviver toda

a minha infância.

Quero visitar as cercania do, então hospital

velho, aquele hospital construído com

madeira.

Eu vou voltar ao Gama.


Vou voltar ao Gaminha e reviver a minha 

adolescência.

Quero andar nas ruas onde no passado

caminhei, reencontrar as coisa que há 

muito lá deixei e, quem sabe, rever as

amizades deixadas perdidas no tempo. 

 

Eu vou voltar à quadra 2 Norte, da SHIS

Norte,  onde vivi a minha primeira paixão e

onde experimentei a minha primeira 

desilusão.

Que voltar à rua onde eu namorava à lua

acreditando ela ser só minha, tão minha.  

 

Eu quero voltar ao Gama, cidade onde 

cheguei, ainda no início da década de 

sessenta e fui adotado por ela como filho

e a adotei por mãe.

Eu quero voltar para o Gama, cidade a

qual, verdadeiramente, nunca deixei.


                          Mauro Lucio - Chuy, janeiro de 2024.


                          @ 


O vento sopra



Nunca soube porque o vento sopra,
mas sempre desconfiei que quando
ele vem, ele me traz a idade, e que
quando ele vai, ele leva consigo a
minha juventude.
E já levou quase tudo.

Sempre gostei de assistir o 
bailar das chuvas, mas nunca as 
tirei para dançar.
Tenho medo dos relâmpagos e não
gosto dos trovões, eles me soam
como sermões.

Envelheci ouvindo o cantar dos
ventos mas, ainda hoje, ele me
assusta quando canta no meio das
madrugadas escuras.
Gosto do vento, mas não gosto do
seu lamentar

Quando chove no meio da noite,
me ponho a cismar.
As chuvas tardias são como as
paixões não correspondidas, do
nada se fazem violentas e, as 
vezes, chegam a matar.

Ainda hoje não entendo bem o
porque de o vento soprar.
Já estou velho, o vento levou
consigo a minha juventude e
deixou comigo apenas um corpo
fraco,  envelhecido.

Habacuc – Chuy, janeiro de 2024.

                  @


quinta-feira, 25 de janeiro de 2024

O empurrão

 

                                                            Photo: By Gavis


O empurrão, o tropeço, o chão.

Caio e me machuco mas não

digo palavrão.

Nunca satisfaço a vontade da

agressão. 


Dos meu lábios, cortados,

brota um sorriso sem graça.

Passa nada!

Esqueço a ferida e oferto o 

meu  perdão.


A lâmina que corta as ervas 

nunca foi amaldiçoada por 

estas.

Porque haveria eu de te 

amaldiçoaria?


Por isso caio e, ali mesmo no

chão, enxugo as minhas 

lágrimas e faço uma oração.

Oro pelos que, assim como eu,

foram empurrados.


Aproveitei e orei, também, 

pelos que caíram e se 

levantaram proferindo 

maldições.

Lhes disse: façam mais isso

não! 


   Habacuc - Chuy, janeiro de 2024.


               @ 


domingo, 21 de janeiro de 2024

Duvidar - A dudar

 


Não ouso duvidar das coisas sobre

as quais a dúvida tem dúvidas.

Outro dia, diante de uma dúvida, 

em pânico, estanquei.

 

Estanquei e, cheio de dúvidas,

atordoado, olhei para um lado, 

olhei para outro, e me deparei com

a dúvida zombando das minhas 

dúvidas.

 

Perdido entre o sim e o não, com

as dúvidas transtornando o meu 

coração, tomei a decisão de não 

duvidar das coisas sobre as quais

a dúvida tem dúvidas.

 

Não duvidar das coisas sobre as 

quais a dúvida tem dúvidas pode 

até não ser a melhor decisão, 

mas evita outras tantas 

complicações.

 

Lido da Silva – Chuy, janeiro de 2024.

 

              @


A dudar



No me atrevo a dudar de las cosas 
sobre
las cuales la duda tiene dudas.
Otro día, ante una duda, 
presa del pánico, me detuve.

Me detuve y, lleno de dudas,
aturdido, miré hacia un lado,
miré a otro y encontre la
duda burlándose de la mía
dudas.

Perdido entre el sí y el no, con las dudas
perturbando mi 
corazón, tomé la decisión de no dudar 
de las cosas sobre las cuales
la duda tiene dudas.

No dudar de las cosas sobre las cuales
la dudas tiene dudas puede ser que
no sea la mejor decisión, pero, seguro,
que evita muchas otras complicaciones.

                            @



domingo, 14 de janeiro de 2024

Que susto!

 

                                                             Photo by Gavis

De repente me deparo com a 

verdade completamente

despida diante dos meus olhos

me mostrando como realmente

sou.

Que susto!


Ela estava ali diante de mim

me mostrando tal como sou,

um ser igual aos outros, um

pecador.


Com a verdade me apontando,

me descobri sendo uma 

pessoa muito diferente daquela

que eu me imaginava ser. 


Aos olhos da verdade sou uma

criatura comum, com os

mesmos defeitos que tanto

critico nos viventes.  


Diante da verdade, me percebo

um ser menos especial do que

sempre acreditei ser.

Me descubro um ser comum. 


Sem preâmbulo me descubro

um simples mortal com todos

os pecados dos mortais.

Viva a verdade!


Fui despertado pela verdade e

me descobrindo sendo um ser

com os mesmos pecados

daqueles que sempre condenei.


    Habacuc - Chuy, janeiro de 2024.


                  @ 


sexta-feira, 12 de janeiro de 2024

Distorções

 



Não gosto da arrogância da

sinceridade.

A preguiça da dúvida me

incomoda.

Desprezo a covardia da 

indecisão.


Aqui e ali a certeza tropeça

em sua arrogância.

A dúvida, em sua inércia

eterna, não desce do muro

e, a indecisão me causa 

muita aflição.


Não critico a sinceridade só

por criticar.

Já quanto a dúvida, sei lá!

Melhor não confiar.

A indecisão, sempre me 

deixa na mão.


Outro dia a sinceridade me 

questionou sobre as minhas

dúvidas e, então lhe 

questionei, quais dúvidas?

Confusa, ela gaguejou e

então, calado, me afastei.


Dispenso a arrogância da

sinceridade.

Fujo das meias verdades 

da dúvida e guardo 

distância da indecisão.



 Lido da Silva - Chuy, janeiro de 2024


                     &


quarta-feira, 10 de janeiro de 2024

Não sei!



Nem tudo que peço à vida me traz 
sorte. 
Às vezes, o engano me engana, e aí,
eu não gosto.

O desengano é bruto, não aceita 
brincadeiras. 
Então não brinco e, se fantasio, o
faço com cuidado. 

A verdade não é dada às brincadeiras
e, quando ela se manifesta, o faz para
criticar.
Se dela discordo, vamos brigar.

Não sou dado às ilusões, mas, 
confesso que gosto do devanear.
Nesses momentos a realidade não  
me perdoa, ela vai me buscar.

A brutalidade da verdade dói tanto
quanto o abandono. 
Sim! A verdade interrompe ilusões
e desencoraja fantasias.

Lido da Silva - Chuy, janeiro de 2024.

                @



quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Faz tempo!



Há muito não vens em minha casa e, eu sinto
falta de ti!
Sei que sentes necessidade de conversar
comigo mas, quando em minha presença, não
me diriges palavra.

Há muito te espero em minha casa, mas
quando vens, tímido, ocupas o fundo da sala
onde quase não consigo ver os teus olhos.
Não entendo porque nunca te sentas ao meu
lado, vives te escondendo de mim.

Há tempo não me visitas e, as vezes que o 
faz, guarda silêncio, finges não perceber a
minha presença.
Gostaria tanto que compartilhasses comigo
os teus desalentos.

Gostaria que me falesses das tuas angústias
mas ficas mundo e, se oras o faz aos gritos de
tal forma que mal consigo ouvir as tuas 
orações, ouvir o teu coração.

Faz tempo que não vens em minha casa e,
quando vens, deixas o teu coração lá fora.
Estou com saudades de ti, venha me visitar!
Sinto falta de ti.

Há tempos não te vejo, sei que tem andado
muito calado ultimamente.
O que te aconteceu?
Venha me visitar!
 
Habacuc - Chuy, dezembro de 2023.

                    &

Fardo

  Envelheci. O que me foi dado a viver, vivi.  Os meus olhos, agora cansados, vêm, ainda que sem muita nitidez, a hora da minha despedida. V...